O último relatório dos cientistas sobre Mudanças Climáticas

A realidade da mudança climática está batendo na porta e é preciso agir agora para evitarmos uma catástrofe. É isso que traz  o novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU).

Eu sei, parece forte, e é. Acontece que você e eu, cidadãos comuns, não devemos nos desesperar ou sentir culpa. Devemos sim pressionar, estar atentos, compartilhar informações, fazer a nossa parte. É o que nos cabe. Culpa e medo a gente deve deixar para as indústrias petroquímicas, os governos e outros grandes poluidores e tomadores de decisão, combinado?

O IPCC

IPCC é basicamente o grupo internacional de cientistas que a ONU selecionou para monitorar tudo que está rolando na ciência relacionado às mudanças climáticas. Essa entidade foi criada em 1988 – já naquela época se discutia o aquecimento global e os problemas relacionados.

O IPCC por si só não desenvolve pesquisas, os cientistas apenas avaliam, interpretam e reúnem as pesquisas feitas mundo afora.

Existem três grupos de trabalho (grupos de cientistas), divididos da seguinte forma:

Grupo I – Bases da Ciência Física da Mudança Climática
Grupo II – Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade da Mudança Climática
Grupo III – Mitigação da Mudança Climática

O mais recente relatório do IPCC saiu entre 2022 e 2023 (esse último saiu agora 20/3/23) e foi assinado por 234 especialistas de 64 países. (Fonte: Ipea e G1 )

Principais pontos

Acompanhamos o último relatório e seguem algumas observações, feitas pelo ClimaInfo ao vivo no Youtube.

Alguns pontos levantados pelo prof. Paulo Artaxo, professor e chefe do departamento de Física Aplicada da USP:

  • O relatório foca em soluções que já temos: já temos a tecnologia necessária e os recursos financeiros para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em nível global
  • A janela de tempo para agir está se estreitando
  • Alguns efeitos são irreversíveis como perda de biodiversidade e derretimento de geleiras
  •  Precisamos reduzir 50% das emissões até 2030 e 100% até 2050. Já temos capacidade e tecnologia para isso
  • Alguns ecossistemas estão chegando a um ponto de não retorno
  • Cada vez menos os sumidouros de carbono irão fazer efeito
  • Quem menos contribui com as mudanças climáticas é quem mais sofre os seus efeitos
  • Os atuais níveis de financiamento para lidar com as mudanças climáticas são altamente inadequados e ofuscados pelo financiamentos para energias fósseis

Alguns pontos levantados por Mercedes Bustamante, bióloga e presidente da CAPES:

1- Onde estamos e para onde vamos

As tendências atuais são incompatíveis com um mundo sustentável e equitativo. Hoje estamos vivenciando por volta de 1,1 graus de aquecimento desde a Rev. Industrial – o que já é suficiente para causar eventos climáticos extremos em todo o mundo.

Os eventos climáticos extremos vão continuar se intensificando. Os impactos são causados por condições climáticas físicas atribuídas às ações humanas (Ex: secas e cheias extremas, incêndios, acidificação dos oceanos, aumento do nível do mar)

O ritmo e a escala do que foi feito até agora e os planos atuais são insuficientes para enfrentar a crise climática. É preciso fazer muito mais. É preciso demandar ações mais contundentes dos governos. A nossa capacidade de adaptação está atingindo um limite.

2- O nosso futuro

Os avanços científicos resultaram numa melhor compreensão de como será o futuro, dependendo das escolhas que fizermos hoje. Com cada incremento de aquecimento, aumentam também os riscos, impactos, perdas e danos.

As perdas e danos fazem parte do nosso futuro, atingindo os ecossistemas e as pessoas mais vulneráveis de forma especialmente dura, mas as ações tomadas agora farão diferença. As opções que temos a nosso dispor para nos adaptarmos vão ficando mais limitadas conforme cada incremento na temperatura. Algumas mudanças são inevitáveis e irreversíveis, mas podem ser reduzidas conforme reduzimos nossas emissões.

Justiça climática e equidade são palavras-chave para enfrentar a crise, já que os mais vulneráveis são os que mais sofrerão e os que menos contribuíram para a situação atual.

Em 2018 o IPCC destacou a importância e o desafio de mantermos o aquecimento em 1,5ºC. Cinco anos mais tarde, esse desafio tornou-se ainda maior. Existem opções em todos os setores para isso ocorra.

3- Soluções

Em que medida as gerações atuais e futuras irão experimentar um mundo mais quente, depende de nossas escolhas feitas nessa década. Essas escolhas terão um impacto na terra durante milhares de anos. Temos uma estreita janela de oportunidades até 2030.

Com uma ação rápida, é possível construir um futuro viável e sustentável para todos por meio de um desenvolvimento resiliente ao clima.

Existem múltiplas opções viáveis, eficazes e de baixo custo disponíveis agora para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e adaptar-se às mudanças climáticas. Existem medidas políticas que já foram testadas e que podem alcançar reduções profundas de emissões e resiliência climática se forem ampliadas e amplamente aplicadas – é preciso que haja ganho de escala. Algumas políticas e leis já estão reduzindo as emissões em vários bilhões de toneladas por ano. É preciso aumentá-las. 

O aumento do financiamento climático é crucial para o desenvolvimento resiliente ao clima, especialmente nos países em desenvolvimento onde as lacunas e oportunidades financeiras são maiores.

Priorizar a justiça climática é crucial. 

Alguns destaques do ponto de vista do professor Moacyr Araújo, o vice-reitor da Universidade Federal do Pernambuco que é professor do Departamento de Oceanografia da UFPE:

  • Não existe clima sem oceano
  • Falta ênfase no olhar mundial para o oceano
  • Na parte terrestre o aumento de temperatura é da ordem de 1,1ºC, já no oceano chega a 0,9ºC – e isso é muito!
  • Quanto mais quente o oceano, menor sua capacidade de armazenar gases como o CO2 – e isso causa acidificação, branqueamento de corais
  • Fitoplâncton é o verdadeiro pulmão do Planeta – captura CO2 e joga oxigênio para a gente respirar
  • Chuvas fortes em Recife, Araraquara, São Sebastião – vão se tornar mais comuns.
  • As séries históricas de eventos extremos não estão mais dando conta de nos ajudar a prever novas ocorrências
  • A desigualdade no Brasil é também um evento extremo constante – é 15 vezes maior o número de mortes em regiões vulneráveis
  • O derretimento do Ártico e de outras regiões está causando o aumento no nível do mar

Sobre o Brasil

Temos uma janela de oportunidades aqui, alguns trunfos a serem explorados: a matriz de emissão de gases, mais de 90% está relacionado a mudança de uso do solo e florestas, agricultura e energia. Nossas ações de mitigação e adaptação devem se focar nessas áreas. Isso pode ser considerado um aspecto positivo pois são áreas “menos complicadas” de se lidar (se comparadas a dependência de combustíveis fósseis ou indústria, por exemplo).

Já conseguimos reduzir as nossas emissões quando fizemos esforços muito grandes para reduzir o desmatamento em governos  passados. Já sabemos como fazer de forma eficaz – temos experiência.

O Plano Safra pode gerar investimentos em programas de agricultura de baixo carbono. Deixar a mensagem: “Quem investir em agricultura de baixo carbono vai ter vantagens.” (Plano ABC)

Energia: O Brasil tem o corredor solar no semi-árido, que pode ser um carro-chefe de energia. No quesito sol, temos um potencial enorme, só não podemos destruir caatinga, por exemplo, para colocar painel solar, isso é greenwashing. Exemplo de Pernambuco: dá para colocar painéis em regiões já degradadas.

Energia Eólica: potencial enorme no Norte e Nordeste onde há zona de convergência, vento constante e intenso o ano inteiro.

Justiça social e justiça climática são palavras-chave para todas as agendas. Quem sofre mais são sempre os mais vulneráveis. Isso precisa estar no centro do debate.

Tem um assunto que também precisa ser endereçado, pois tem uma relação direta com as mudanças climáticas e a justiça climática: as elevadas taxas de juros que transferem todo o recurso do país para pagamento de juros e amortização dívidas. “O cidadão brasileiro vai dormir e no dia seguinte ele pagou 5.4 bilhões de reais para amortização de dívidas.” É uma questão geopolítica, mas interna nossa também e precisa ser colocada na questão.

O video completo das discussões segue abaixo:

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