“Quando as pessoas sentem que estão sendo ouvidas, elas dizem coisas.” (Richard Ford)
Foi com essa frase que a oficina de Comunicação Não Violenta, rebatizada de A Arte da Escuta, começou. O encontro, num apartamento no centro de São Paulo, foi a contrapartida pela contribuição que a Mari fez a um projeto (Guerreiros Sem Armas), e eu Clara fui no lugar dela. Quem liderou a oficina foi Emygdio Carvalho, ativista e empreendedor, que fundou o Instituto Tellus, idealizou o Movimento #EuVotoDistrital, fez parte do Minha Sampa, e liderou muitas outras atividades de cunho social. O projeto mais recente do Emygdio é o Na Escuta.
Ele chama esse projeto de “experimento humano” e quer, com ele, estudar, investigar e incentivar essa prática tão simples e transformadora: a da escuta.
O Emygdio conta que tudo começou quando passou por uma situação pessoal difícil, ele se sentia desconectado das pessoas à sua volta e da sua vida. Depois de uma intensa busca por soluções, foi justamente na prática da escuta que o Emydgio encontrou uma cura. Foi então que ele decidiu tocar o projeto, para poder levar esse “superpoder” para mais gente. Para que mais gente pudesse se encontrar, se conectar e quem sabe até se curar. Quero lembrar aqui que a escuta não é só relacionada ao outro, mas principalmente a nós mesmos também, no escutar a si próprio.
Durante a oficina fomos convidados a perguntar “está tudo bem?” para um desconhecido ao lado e durante cinco minutos apenas ouvi-lo, sem falar nada. Foi interessante sustentar os momentos de silêncio, segurar a vontade de perguntar e opinar sobre o que o outro estava falando. Somos sempre tentados a preencher todos os espaços da conversa… mas e o tempo para reflexão? Por outro lado, quem estava na posição de ouvinte ao se ver obrigado a não falar, entrou num lugar de realmente ouvir, prestar total atenção, focar. Um ponto muito interessante trazido naquele momento foi que é impossível não fazer julgamentos enquanto se ouve alguém, e a ideia não é barrar esses julgamentos, mas fazer como se faz na meditação – aceitar o julgamento, deixá-lo ir e voltar para a escuta.
O segundo exercício era a mesma coisa, mas depois dos cinco minutos de escuta, o ouvinte teria um minuto para resumir tudo que ouviu. Com essa “tarefa” a escuta ficava ainda mais aguçada. Foi nessa parte que o Emydgio nos trouxe uma ferramenta. A gente precisaria preencher a frase: “Você se sente ______, porque precisa/ valoriza______”. A falta de escuta nos faz ignorar a existência de um problema e identificar as lacunas da frase é uma maneira de entender que há um problema e que ele pode ser solucionado apenas ouvindo os nossos sentimentos ou alheios. Ressaltando que muitas vezes é preciso uma segunda pessoa para identificar coisas que não estão claras para nós.
O Emydgio falou de maneira muito apaixonada sobre o quanto os nossos sentimentos são uma tecnologia de ponta que a natureza dá para identificarmos o que há de errado conosco e, a partir daí, agirmos. É uma forma de conectarmos com nós mesmos, com a nossa alma. Alguém durante a oficina falou: “o sentimento é a fumaça, e a necessidade é o fogo.”
Depois desses dois exercícios fomos convidados a fazer a parte dois novamente, mas dessa vez prestando atenção em tudo que não estava sendo dito: o olhar, os gestos, o tom da fala. Dessa maneira a investigação fica mais apurada. Emydgio nos deixou com muita vontade de fazer esses exercícios em casa, com nossos amigos, nossos pais. Eu convido você a tentar: são muito simples, mas extremamente poderosos.
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