Conversamos com a Aline Tristão do selo FSC no nosso instagram para nos explicar o papel da madeira no nosso dia-a-dia e a importância de consumir materiais certificados, da floresta, para manter a floresta em pé.
Deixar de consumir materiais de madeira não é a solução – a oferta e demanda não vão acabar tão cedo – por isso, uma boa ideia é apoiar e consumir de quem comercializa da maneira correta.
Para quem não conhece, o FSC é um selo de manejo florestal responsável e tem 25 anos. A Aline conta que ele surgiu após o movimento Eco-92 no Rio de Janeiro quando as florestas (já) estavam sendo devastadas e havia um enorme desejo de boicotar produtos vindos das florestas. Foi criado um consenso de que essa não era uma boa alternativa – visto que há oferta e demanda em cima disso, muito emprego e trabalhadores cuja renda depende dessa comercialização. O que se entendeu então é que a melhor forma de cuidar do assunto seria criando regras, lei e boas práticas para consumir produtos da floresta.
O FSC foi criado no mundo todo para certificar quem segue essas regras. Desde o plantio, colheita, processamento, tudo passa pela certificação. Até as regras trabalhistas de quem está envolvido no processo.
Quando você encontra o selo da FSC em alguma embalagem, por exemplo a Tetra pak de leite, ele quer dizer que aquela embalagem foi produzida a partir de boas práticas sociais, ambientais e econômicas. É uma garantia de que a árvore que gerou aquele produto é de origem legal.
A FSC certifica diversos tipos de produtos, não só de origem da madeira. Açaí, por exemplo. Ao comprar um açaí com esse certificado, você sabe que o trabalhador que subiu na árvore em busca dos frutos usou os equipamentos corretos, está sendo remunerado de forma justa, não está usando trabalho infantil e assim por diante.
De onde vem as árvores que são transformadas em produtos?
A Aline explica que são árvores plantadas especificamente para a comercialização, principalmente pinheiros e eucaliptos. Tudo que consumimos hoje no Brasil de papel ou madeira é vindo dessas plantações. Quase 90% da produção de eucalipto, principalmente para a produção de papel, é certificada pelo FSC. Não existe papel no Brasil feito de árvores da Amazônia.
São quase 8 milhões de hectares (cada hectare é mais ou menos um campo de futebol) de plantações florestais, de eucalipto, teca, etc. e para cada hectare plantado, é quase um hectare conservado. Há todo um cuidado no manejo para que a floresta tenha tempo de se regenerar.
Se uma empresa procura o FSC atrás de uma cerificação, a vegetação nativa da área a ser certificada não pode ter sido retirada depois de 1994, esse é o marco usado pela FSC. Segundo a Aline, não faz sentido retirar natureza para plantar árvores de manejo.
Tem madeira extraída da Amazônia também?
Tirando todas as situações ilegais, uma empresa com autorização para retirar madeira na Amazônia pode retirar – pelas licenças ambientais governamentais – de 3 a 5 árvores de cada hectare a cada 25 anos. E não é qualquer árvore. Há muitas regras para se seguir.
É mais cara madeira certificada?
É uma questão de valor, não de preço. Caro é comprar um produto que usou mão de obra infantil, escrava, que roubou madeira de terra indígena, que desmatou. Isso é muito caro. O preço da madeira certificada é o valor correto e justo. Pense nisso na hora de colocar na ponta do lápis.
O que é melhor: lápis ou lapiseira? Isqueiro ou fósforo? Canudo de papel é melhor? Um produto de madeira ou um produto de plástico?
Em primeiro lugar, o melhor é usar o que já tem. Melhor é repensar o consumo, entender a verdadeira necessidade daquele produto. Consumir com parcimônia. Canudo, por exemplo, tirando o caso de necessidades especiais, é um objeto a ser eliminado da vida. É uma invenção totalmente poluente e supérflua.
Fora isso, nós três já aprendemos: quando precisamos de algo para nós, para nossa casa, para nosso trabalho, sempre buscamos usado: de brechó, sebo, lojas de segunda mão.
Olha esse exemplo: Quando me mudei, percebi que precisava de uma arara de roupas. Fui pesquisar na internet e vi que as araras de roupa de aço de boa qualidade custavam quase o mesmo preço: novas ou usadas. Qualquer pessoa teria preferido uma nova, já que economicamente acaba dando no mesmo. Mas não! Comprar novo quer dizer gerar lixo desde a produção, o transporte, embalagem. Essa é a matemática que deve ser feita. Comprei na OLX e fui buscar perto de casa.
Por outro lado, se há a necessidade de comprar e a dúvida é entre um plástico ou madeira, é preciso fazer toda uma análise antes de dar uma resposta, nem sempre a madeira vai ser a melhor opção. Se for um plástico durável, de boa qualidade, que vai ficar em uso por muito tempo, ele pode ser melhor do que derrubar uma árvore. Caso contrário, se o material de madeira tiver certificação FSC ou você conheça e saiba a procedência, o plástico dura de 200 a 400 anos e é tóxico, portanto: vamos de madeira.