Aprendi no Atlas do Plástico

O Atlas do Plástico é um material informativo publicado pela fundação alemã Heinrich Boll em 2020.  Qualquer um pode baixar gratuitamente aqui.

Eu, Clara, acabei de devorar esse material cheio de dados super alarmantes e ao mesmo tempo valiosos para entendermos o verdadeiro cenário que enfrentamos de poluição plástica no Brasil e no mundo. Separei aqui alguns dados que mais me chamaram a atenção.

O primeiro ponto que acho que vale destacar é o papel das indústrias, que estão inundando o planeta com plástico sem se responsabilizar pelo destino final dos seus produtos, responsabilizando nós, os consumidores. É fundamental que façamos a nossa parte, mas sempre conscientes de que o grande responsável pelo problema do lixo são as indústrias. Inclusive o Atlas traz que a maneira mais simples e melhor de resolver o problema do plástico é “não produzir e nem consumir tanto plástico.”

Ainda falando nas indústrias e a responsabilidade, um dado muito revelador (e triste): a meta das indústrias é aumentar em 40% a produção deste material até 2050. Não cabe mais plástico no mundo: já estamos ingerindo plástico – muito mais do que se imaginava, tem plástico na nossa água, no peixe que comemos, nos nossos produtos de higiene. Até 2050 vai haver mais plástico do que peixes nos oceanos e mesmo assim a meta é aumentar a produção. Ai, capitalismo.

Quando tudo começou

Existem vários tipos de plástico e sua história começa em 1862 quando o primeiro tipo de plástico, fabricado a partir da celulose, foi apresentado ao mundo (o Parkesine). Já o primeiro plástico sintético veio ao mundo em 1907, descoberta de um químico belga. O PVC chegou um pouco depois e começou a ser disseminado quando se descobriu que ele poderia ser produzido com resíduos da indústria petroquímica, de forma barata.

De acordo com o Atlas, desde a época da Segunda Guerra Mundial já se sabia sobre os malefícios do plástico no meio ambiente e na saúde humana. Porém dava lucro, era inovador e era barato, então…

Foi no final da década de 1950 que a cultura descartável (de consumir e logo descartar) começou a ser disseminada e até a década de 1970 ela se impôs globalmente.

As empresas

Na década de 1960, empresas como Coca e Pepsico fizeram lobby contra leis que exigiam que eles pegassem de volta suas garrafas de vidro. Em 1978, a Coca-Cola fez um imenso desserviço à humanidade e, mesmo sabendo dos problemas que estaria causando, substituiu suas garrafas de vidro pelas garrafas PET. É uma nova era para as bebidas de consumo e massa e para os problemas ambientais.

Atualmente a Coca-Cola é a empresa mais poluidora de lixo plástico do mundo, seguida da Pepsico, Nestlé e Unilever. São empresas para se questionar bem antes de consumir qualquer produto.

A Johnson & Johnson, outra empresa para se ficar atent@, contribuiu (e ainda contribui) muito para o problema, quando em 1975 lançou no Brasil as fraldas descartáveis para os bebês – facilitando a vida das famílias mas prejudicando muito o meio ambiente. A fralda não recicla e os bebês usam em média umas 4000 fraldas nessa época . [Vale lembrar que ”garrafa PET e fraldas descartáveis são os produtos campeões quando o assunto é produção de lixo plástico no Brasil”]

A Proctor & Gamble também escolheu estar desse lado da força (das grandes poluidoras) quando passou a fornecer seus produtos em sachês.

O setor que mais consome plásticos no mundo é o setor de embalagens, seguido da construção civil e da indústria têxtil. Algumas dezenas de empresas de alimentos e de bens de consumo são fontes de quase todo o lixo.

Reciclagem

A reciclagem é, infelizmente, uma solução que não soluciona o problema. Das 11,3 milhões de toneladas de plástico produzido por ano no Brasil, apenas 1,28% são recicladas. A média global é mais alta, porém também baixa, 9%.

Reciclar o plástico, na prática, é na verdade subciclagem, já que cada vez que um pedaço de plástico é reciclado, sua qualidade é degradada. O plástico pode ser reciclado um certo número de vezes (em torno de três vezes) até que vá parar num aterro ou incinerador.“O que chamamos de reciclagem de plástico é, na verdade, apenas adiar o descarte final.”

**Nós defendemos que as pessoas separem o seu lixo para a reciclagem, porque acreditamos que é um primeiro passo para drogas mais pesadas, risos, o primeiro passo para uma tomada de consciência, para mudanças maiores e mais significativas. Acreditamos que a separação do lixo deve ser feita em conjunto com outras ações como a compostagem e a redução do consumo. A responsabilidade e culpa é das indústrias, mas nós como cidadãos podemos fazer nosso papel com o lixo que geramos. Primeiro reduzindo o consumo, depois reutilizando e por último separando corretamente e cobrando a reciclagem. Acreditamos que é uma atitude que merece ser disseminada, ainda mais porque atualmente 75% dos brasileiros não separa o lixo corretamente. 

Incineração (ou queima de resíduos)

Já está mais do que comprovado que a incineração, mesmo que feita de forma controlada por empresas especializadas, é poluente e prejudicial ao meio ambiente e não deve ser encarada como uma solução viável para o problema do lixo.

“As emissões associadas à incineração incluem dioxinas e metais como mercúrio, chumbo e cádmio. (…) as toxinas podem viajar longas distâncias e serem depositadas no solo e na água longe de sua origem.”

A poluição plástica e a saúde humana

“O plástico polui em todos os estágios do ciclo de vida, desde quando o petróleo e gás são extraídos para produzi-lo até quando é descartado indevidamente, depositado em aterros, reciclado de maneira equívoca ou queimado.”

A extração de petróleo é feita principalmente por uma técnica polêmica de fraturamento hidráulico, ou fracking, quando substâncias tóxicas são liberadas no ar e na água. Mais de 170 substâncias usadas nesse procedimento causam câncer, distúrbios reprodutivos e danos ao sistema imunológico.

São adicionados vários aditivos ao material para que ele se transforme no plástico como conhecemos e muitos desses aditivos são prejudiciais à saúde. 

Algumas das possíveis consequências do plástico para a saúde humana:

(o contato direto com substâncias presentes no plástico)

  • Transtorno de déficit de atenção, hiperatividade e baixo QI
  • Asma
  • Obesidade
  • Puberdade precoce
  • Distúrbios do desenvolvimento embrionário (em grávidas)
  • Câncer de mama
  • Diabetes
  • Infertilidade
  • Câncer de próstata

“A crise do plástico está associada ao desenvolvimento dependente da exploração de combustível fóssil e a padrões de consumo insustentáveis.”

Algumas soluções 

As soluções apontadas devem andar juntas. Diminuir a produção e gerir os plásticos já existentes. Tomada de consciência por parte da população, aliada a uma mudança de comportamento. Pressão aos governos e pressão às indústrias (tanto as que produzem quanto as que usam).

  • Fortalecimento da logística reversa (responsabilizar as indústrias pelo resíduo gerado colocando-os de volta na cadeia).
  • Fortalecimento da economia circular
  • Pressionar governos para que cobrem as indústrias e gerem leis que as segure
  • Pressionar o setor privado que escolhe os materiais de seus produtos
  • Evitar e reduzir

O Atlas traz também a questão dos “bioplásticos” que de forma geral não resolvem o problema e merecem um texto à parte.

Quanto à nós, vamos continuar com tudo com as nossas microrrevoluções, pois quanto menos pessoas quiserem plástico, menos haverá oferta. Vamos reduzir e fazer o que podemos como o que temos: nosso poder de escolha!

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