Durante a pandemia de Covid o mundo todo desacelerou e, com isso, reduziu suas emissões de gases de efeito estufa (g.e.e.). O mundo todo menos o Brasil, que ficou mais pobre e poluiu mais.
De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, o SEEG, que é uma iniciativa do Observatório do Clima, o país apresentou uma alta de 9,5% nas emissões brutas de g.e.e em 2020, sendo possivelmente o único grande emissor do mundo a ir na contramão do resto. Mas como isso foi possível se no Brasil também tivemos quarentena e redução das atividades econômicas? Vamos entender agora.
Gases de Efeito Estufa
G.E.E. são basicamente alguns gases capazes de aumentar o efeito estufa e, consequentemente, a temperatura da Terra. O efeito estufa, como estudamos na escola, é fundamental para a manutenção da vida na Terra, já que sem ele a temperatura média terrestre seria de -18ºC e não os 15ºC habituais.
O problema é que com o aumento das atividades humanas, como a queima dos combustíveis fósseis e o desmatamento, há um aumento excessivo de concentração desses gases na atmosfera e a Terra está aquecendo demais. As consequências desse aquecimento são muitas e muito graves: desregulação nos regimes de chuvas – afetando a oferta de água e alimento -, perda da biodiversidade, intensificação dos eventos extremos como tempestades e secas, elevação do nível do mar, entre outras. (INPE)
Alguns desses gases são, de acordo com a Cetesb:
- CO2 – dióxido de carbono – responsável por 60% do efeito estufa – principalmente da queima de combustível fóssil, desmatamento e queimadas
- CH4 – metano – 15 a 20% do efeito estufa – principalmente do arroto do boi, aterros sanitários, plantação de arroz inundado
- N2O – óxido nitroso – 6% do efeito estufa – principalmente por conta de fertilizantes químicos, queima de biomassa, desmatamento
- CFCs – clorofluorcarbonos – cerca de 20% do efeito estufa – está presente em ar condicionados, geladeiras, aerossóis
Basicamente não dá mais para esquentar o planeta. Se esquentarmos mais será muito difícil a vida na Terra.
Atividades que emitem g.e.e.
As atividades que mais emitem g.e.e. no mundo todo são: queima de combustíveis fósseis, queimadas, desmatamento, decomposição do lixo e agropecuária. (INPE)
O Brasil
De acordo com o relatório do SEEG, o que mais emite g.e.e no Brasil é o desmatamento, principalmente na Amazônia e no Cerrado. Durante a pandemia enquanto as atividades econômicas estavam estagnadas – deixando o país mais pobre – o desmatamento aumentou e emitiu muito g.e.e., ou seja, poluímos mais. O desmatamento é uma atividade majoritariamente ilegal, que gera pouca riqueza e muito co2.
Emissões em 2020 por setor:
- Agropecuária: 27%
- Energia: 18%
- Processos industriais: 5%
- Resíduos: 4%
- Mudança de Uso da Terra e Floresta: 46%
foto: Maria Carolina Prado
1) Agropecuária
Em 2020 esse setor aumentou em 2,5% a emissão de g.e.e. com relação ao ano anterior. Na agropecuária são contabilizadas as emissões:
- Do “arroto do boi” (fermentação entérica), que representa 65% das emissões do setor (alô, comedores de carne!)
- do tratamento e disposição dos dejetos dos animais
- do cultivo do arroz irrigado,
- da queima de resíduos agrícolas do cultivo de cana-de-açúcar e algodão
- da forma como os solos agrícolas são manejados (uso de fertilizantes sintéticos principalmente)
Segundo o SEEG, sem contar com o desmatamento, a pecuária bovina brasileira emite mais do que países como a Itália e a Argentina.
2) Energia
As emissões desse setor vem da queima de combustível em atividades como transportes, indústria e geração de eletricidade. Há também as chamadas emissões fugitivas, que vem do escape de gases como o metano na produção de petróleo e gás natural. A atividade mais emissora do setor é o Transporte.
- Transporte
- Produção de combustíveis
- Indústrias (consumo energético)
- Geração de eletricidade (queima de combustíveis em termelétricas – poluente e cara)
- Edificações (consumo energético residencial, comercial e público)
- Agropecuária (como a queima de diesel em máquinas agrícolas)
Houve uma queda de 5,6% nas emissões entre 2019 e 2020 muito por conta da redução no uso de transportes durante a pandemia. A queda não foi tão grande comparada a outros anos, como 2016, ou seja, mesmo com a pandemia o setor não reduziu tanto assim suas emissões. A indústria já vem reduzindo suas emissões desde 2015 – pode-se incluir na motivação para essa redução a pressão da sociedade, que cada vez menos quer comprar de empresas poluidoras.
Há no país muitas fontes renováveis de energia – como a solar, eólica e biomassa – e também um número elevado de hidrelétricas se compararmos com a Europa e EUA, porém ainda temos termelétricas movidas a carvão mineral e incentivos fiscais para o uso delas – o que vai na contramão do que o mundo precisa. O lobby desse setor é muito forte, e sobre isso você pode aprender mais aqui.
3) Processos Industriais e Uso de Produtos
Nesse setor o que conta são as transformações físicas ou químicas de materiais na indústria, como aço, ferro gusa e cimento, cujas emissões tiveram um aumento de 7% de 2019 para 2020.
4) Resíduos
A maior parte das emissões desse setor está associada a:
- Disposição de resíduos sólidos em aterros controlados, lixões e aterros sanitários – 64%
As emissões de metano e CO2 em aterros são umas das principais emissoras de g.e.e. em regiões metropolitanas - Tratamento de efluentes líquidos domésticos – 28%
- Tratamento de efluentes líquidos industriais – 6%
(principalmente a produção de leite cru e carne bovina) - Incineração ou queima a céu aberto – 2%
Utilizada principalmente para o tratamento de resíduos hospitalares - Compostagem – 0,06%
No Brasil existem diversos projetos importantes de recuperação de biogás de metano (CH4). O SEEG aponta a importância da valorização dos materiais coletados nos aterros – como metano para o biogás – para reduzir as emissões do setor e bem como a redução na geração de resíduos. Outro ponto reforçado pelo SEEG é a importância do saneamento básico.
5) Mudanças de Uso da Terra e Florestas
Esse setor é a maior fonte de emissão bruta de g.e.e. do país e segue com tendência de aumento. A maior parte das emissões brutas (93%) é causada por desmatamento na Amazônia, principalmente por conta do avanço da pecuária sobre as florestas.
Há de se contabilizar as remoções de g.e.e. provenientes das áreas de vegetação nativa protegidas como Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Porém essas remoções são superestimadas porque há muita degradação nessas áreas que não é contabilizada.
De acordo com o SEEG, as políticas de controle para frear o desmatamento que vigoraram entre 2004 e 2012, foram desmontadas a partir de 2019, quando o Bolsonaro paralisou o PPCDAm (Plano de Prevenção e Controle de Desmatamento na Amazônia). Além disso, os órgãos ambientais como o Ibama e o ICMBio foram fragilizados, o controle social foi reprimido (lembram de Bruno e Dom Philipps que morreram protegendo a floresta?) e tentativas de flexibilizar leis ambientais vêm sendo feitas.
Apesar das taxas de desmatamento na Amazônia serem altas, a perda de vegetação nativa no Cerrado ocorre numa velocidade proporcionalmente três vezes maior.
Conclusão
Precisamos PARAR O DESMATAMENTO urgentemente. Uma das coisas que nós podemos fazer é reduzir o consumo de carne.
Referências bibliográficas:
“Análise das emissões brasileiras de Gases de Efeito Estufa e suas implicações para as metas climáticas do Brasil 1970-2020” SEEG, Observatório do Clima, 2021.
Perguntas Frequentes. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. INPE. Disponível em: INPE
Gases do Efeito Estufa. Cetesb. Disponível em: Cetesb