O Futuro do Plástico

Depois que, há dois anos, cientistas descobriram microplástico na placenta humana, é difícil que alguma notícia relacionada a crise global de poluição plástica nos surpreenda. Encontraram plástico na corrente sanguínea, nas fezes, na água, no leite materno, nos peixes que comemos, no ar que respiramos…

A matéria de capa da Revista Superinteressante de dezembro de 2022, cujo título é homônimo a este artigo, trouxe muitos dados instigantes sobre este material que não é Deus, mas é onipresente (risos). Trazemos eles aqui.

A primeira pergunta que podemos nos fazer depois de aprender que os vários tipos de plástico estão em tantos lugares é: de onde eles vem? De acordo com a matéria da Super, existem várias fontes:

  • Muitos cosméticos como shampoo, condicionador, pasta de dentes e hidratantes têm plástico que vai parar na água quando tomamos banho
  • Roupas de tecido sintético como poliéster soltam microplásticos na máquina de lavar e a água também vai pelo ralo com esse material
  • Animais marinhos comem embalagens que chegam ao nosso prato
  • Alguns alimentos com plástico: água, açúcar, cerveja, mel, sal e frutos do mar

Quanto plástico ingerimos por dia?

Um adulto come ou respira em média 300 pedaços de microplástico, ou seja, aproximadamente 5 gramas – o equivalente a um cartão de crédito por semana – ou 20g, uma peça de Lego por mês.

O que o plástico faz com a nossa saúde?

Essa resposta ainda não é muito clara, mas existem estudos sugerindo que a ingestão desse material pode provocar disfunções metabólicas e reprodutivas, causar danos às células humanas entre outras possíveis consequências. Eu não arriscaria dar uma bebida quente a um filho meu em uma garrafa de plástico. Quando aquecido, grande parte dos plásticos que usamos no dia-a-dia libera substâncias e interage com o meio.

Nesse episódio do nosso podcast o pesquisador e especialista em neurociência, Julio Luchman, conta um pouco sobre as consequências do plástico para a nossa saúde.

Enquanto a indústria continua fabricando plástico aos montes e tenta colocar a responsabilidade na gente (com os dizeres “recicle-me” que a Coca-cola coloca em suas garrafas e latas) o problema só piora.

Essa imagem é tão comum quanto triste: uma garrafa PET de Coca-cola jogando a responsabilidade do pós-consumo no consumidor.

Qual é o futuro desse cenário?

A revista Super trouxe alguns pontos. O primeiro é que a reciclagem não vai resolver o problema. Muitos plásticos nem podem ser reciclados – por falta de tecnologia, por ter uma qualidade duvidosa, outros não tem valor no mercado – por serem leves demais. Os plásticos que reciclam podem passar por uma média de 5-10 ciclos de reciclagem, depois disso, a qualidade fica baixa demais e ele precisa ser descartado. Reciclar pode ajudar num momento de transição, mas não é suficiente.

É fundamental que o poder público vá implementando leis para frear a comercialização e o consumo desse material. Em São Paulo, por exemplo, temos a lei que proíbe estabelecimentos comerciais a distribuirem plástico descartável (saiba mais aqui). A produção de plástico precisa de um freio.

Por outro lado, o projeto Ocean Cleanup, que mostramos nesse video, tem feito um lindo trabalho de limpeza dos oceanos com uma tecnologia que utiliza redes presas em flutuadores. Já foram tirados 101 toneladas de plástico até agora, mas a famosa ilha de plástico que fica no pacífico tem 80 MIL toneladas, isto é: ainda tem muito trabalho pela frente. Esses trabalhos de limpeza e despoluição são úteis e eficazes, mas precisam quadruplicar. Para isso seria necessário vontade política, recursos, incentivos.

Também o viés tecnológico que vem entrando em cena a passos curtos. Em 2016 pesquisadores japoneses descobriram uma bactéria capaz de “comer” plástico (do tipo PET) perto de uma usina de reciclagem. Essa bactéria possui uma enzima que decompõe esse tipo de plástico. Ela foi batizada de “PETase”. Já foram feitas muitas alterações e melhoramentos nessa enzima e hoje há uma corrida nessa direção envolvendo startups e universidades. Foram descobertos também um fungo comedor desse material no Paquistão e outra bactéria na Alemanha. São luzes no fim do túnel.

Uma empresa holandesa está desenvolvendo uma técnica para tornar o plástico infinitamente reciclável, como o alumínio. Grandes poluidores como a Coca e a Unilever cresceram o olho na ideia e estão investindo nesse caminho.

O nosso papel 

Enquanto a ciência vem trabalhando para resolver a questão – e o poder público ainda precisa ser pressionado para fazer o seu papel – o que nós podemos fazer a respeito da crise do plástico?

Microrrevoluções, claro. Reduzir, repensar, reutilizar. Comprar a granel. Cobrar das marcas que consumimos que façam a sua parte (as redes sociais são um ótimo palco para esse tipo de pressão). Assinar petições e participar ativamente de projetos de lei na nossa região. Compostar. Comprar de segunda mão.

A economia circular vem se provando cada vez mais como um caminho. É um modelo de produção e consumo de bens em resposta ao sistema econômico atual, linear. Nela os produtos são criados para se manter no ciclo, ou seja, não haver descarte. Seja com produtos feitos para durar – em oposição a obsolescência programada – seja com ecodesign ou produtos que possam ser eternamente reciclados, sem virar descarte.

A economia circular tem muitos braços: biomimética (inovação baseada na natureza), do berço ao berço (elimina o conceito de lixo), ecologia industrial (o resíduo de uma empresa é matéria-prima de outra) e outros. Todos eles fazem parte de um futuro possível com menos poluição plástica.

 

Deixe seu depoimento

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Deixe seu email para receber um boletim muito especial sobre sustentabilidade ♡

* campo obrigatório