De onde as coisas vem e para onde vão?

Do que são feitas as nossas coisas, de onde vieram? De uma matéria-prima que está em cima da Terra como o papel, ou debaixo, como o alumínio das latinhas? Quais são os materiais mais ecológicos? Casca de abacaxi pode virar sapato?

Conversamos com a Carol Piccin, consultora ambiental e sócia-fundadora da MateriaLab, uma empresa que une materiais e soluções de menor impacto ambiental a empresas. A conversa na íntegra está no episódio 11 do nosso podcast.

Esse assunto que abordamos é chamado de análise de ciclo de vida. É uma técnica que estuda os aspectos ambientais e os impactos potenciais (positivos e negativos) ao longo da vida de um produto ou serviço, desde a extração da matéria-prima até a destinação final. Para fazer essa análise é preciso levar em conta:

  • Composição
  • Características
  • Aplicações potenciais
  • Durabilidade
  • Desempenho técnico
  • Custos
  • Direcionadores

Quanto maior o ciclo de vida de um produto melhor, isto é, quanto mais reaproveitamos e evitamos o descarte de um material, mais longo fica seu ciclo de vida.  Por exemplo: um material que é feito de vidro de resíduo, isto é, vidro que já foi usado e descartado é bacana porque não é de um vidro virgem, não está ocorrendo uma nova extração para que ele seja usado. Sempre que reaproveitamos materiais como cimento, granito, alumínio, aço, etc., estamos aumentando o ciclo de vida daquela extração, no lugar de gerar mais extração.

Já os materiais de origem vegetal são algo que extraímos, mas que irão se repor. São matérias-primas renováveis, como o papel.

Quais as principais características para de observar antes de comprar um produto?

  • Composição
  • Tipo de embalagem
  • Logística reversa

Composição: do que é feito. Quando você encontra uns nomes muito impronunciáveis, é bom já ficar atento que na maioria das vezes já sabemos que tem muitos químicos possivelmente tóxicos ali. Vamos falar mais para frente da origem e de como fazer essa análise para materiais como cimento, por exemplo.

No caso dos ingredientes de cosméticos, existe um site que amamos para consultar sobre as fórmulas dos produtos chamado EWG Skindeep. O EWG é uma organização sem fins lucrativos norte-americana especializada em pesquisa nas áreas de produtos químicos tóxicos, subsídios agrícolas, terras públicas e responsabilidade corporativa. Segundo eles, a missão do grupo é empoderar as pessoas para viverem uma vida mais saudável. Você pode usar o campo de busca do site para procurar por produto, por marca ou por ingrediente. Nós sempre usamos essa ferramenta para consultar sobre os nossos cosméticos.

As notas dos ingredientes vão de 1 a 10:
1 a 2 – verde – nenhum risco ou risco baixo
3 a 6 – amarelo – risco moderado
7 a 10 – vermelho – risco alto

Sobre o tipo de embalagem, que normalmente vem sinalizada no rótulo, é preciso ver se há indicação do material – do que é feita. Se for plástica, tem que vir com o símbolo universal da reciclagem (o triângulo) indicando o número do plástico. Quando isso não ocorre, é bom ficar atento porque já indica que aquele fornecedor não teve nem esse cuidado em nos contar do que é feito.

Logística reversa: Aquele fornecedor indica em algum lugar se você pode devolver para o fabricante. Se sim, maravilha! Pilhas, baterias, embalagem de remédios…as esponjas da scott britte são exemplos de materiais que podem e devem ser devolvidos aos fabricantes para que eles dêem uma destinação correta.

De onde vem os materiais?

Tudo vem do Planeta Terra: algumas coisas vem de cima e outras debaixo. O que vem de cima é tudo aquilo que a gente vê e manipulamos bem. Os de origem animal e vegetal. Então, quando há um manejo correto, são matérias-primas que teoricamente sempre teremos, porque são renováveis. Ex: Fibra de buriti, sisal e madeira, extraídas no manejo florestal.

Fizemos uma live no instagram com a Aline Tristão, diretora executiva do selo FSC, sobre o selo que garante o bom manejo florestal e ela nos contou sobre o uso de madeira no Brasil. Vale a pena assistir, é uma aula.

Em tese, se cuidássemos de forma apropriada, os materiais que “vem de cima” nós sempre teríamos.

Já os materiais que vem debaixo, os minerais, são extraídos pela mineração e causam algum tipo de impacto. Cimento, mármore, granito. A Terra demora muito mais tempo para repor esses materiais. Imagina a areia da praia, quanto tempo não demora para se sedimentar. Esses materiais devem ser tratados com mais ponderação.

E o plástico?

O plástico vem debaixo, do petróleo. Falamos bastante sobre ele aqui e sobre a nova lei que proíbe descartáveis de plástico em São Paulo. 

Uma escova de dentes, por exemplo, faz todo sentido que ela seja de bambu e não de plástico. Considerando que o plástico demora de 200 a 400 anos para se decompor e que o petróleo é extraído debaixo da Terra, por meio de uma extração impactante, por que fazer um produto de uso cotidiano, uma escova de dentes, que é feita para durar em média de 3 a 6 meses? Não faz sentido! O bambu é uma planta que cresce rápido, se decompõe relativamente rápido e sem deixar rastros. Imagine se todos os seres humanos usassem escova de dentes de bambu o tamanho do impacto positivo para a terra.

Indo mais além, por que os utensílios descartáveis são feitos desse material tão nocivo para o meio ambiente e tão durável? Por que não são feitos de folha de bananeira por exemplo, que se decompõe rapidinho?

O plástico em si não é um vilão. O uso dele para produtos descartáveis é que foi banalizado: hoje tudo é de plástico. Deveríamos usar esse material apenas para produtos que terão um ciclo de vida maior, por exemplo: a garrafa térmica de plástico que eu tenho em casa era da minha avó, está há anos na família. Neste caso, o plástico é muito bem-vindo.

A Materialab tem uma materioteca com várias matérias-primas e as suas características. Vale demais fazer uma visita no acervo virtual e até usar quando precisar consultar sobre algum material que eles tenham no acervo.

Por exemplo:
Borracha de câmera de pneu
– sem extração de recursos (origem residual)
– tem alto ciclo de vida, a reutilização é artesanal
– tem durabilidade alta e prática da economia circular

E o cimento?

É de origem mineral! Vem debaixo da Terra e a renovação é demorada. A energia gasta na produção e a emissão de CO2 no caso do cimento são altas. Dependendo da aplicação – de onde aquilo será usado e como – vale a pena, é importante verificar caso a caso.

Materiais novos que estão surgindo

Cada vez mais há uma oferta de materiais alternativos, por exemplo de fibra de abacaxi. Há também um estudo com a fibra de cogumelo, que apesar de parecer frágil, é muito firme. Outro estudo muito forte atual é com as cascas de alimentos, de frutas como maçã, cactus, batata, fécula da mandioca. A tendência é surgir muita coisa vegetal com tecnologia.

 

Qual testamos?

Workshop online de materiais sustentáveis Materialab: acesse o instagram deles

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