O que são alimentos ultraprocessados?

No último mês o Idec, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, publicou uma pesquisa inédita que aponta que há resíduos de agrotóxicos até na nossa bisnaguinha!

Nós já sabemos que somos campeões no uso de agrotóxicos e que grande parte do hortifruti que ingerimos estão contaminados com todo tipo de veneno. A novidade da pesquisa foi mostrar que os alimentos contaminados não são só os in natura (frutas, legumes, grãos), mas também os ultraprocessados.

Estão na categoria de ultraprocessados: bolachas, refrigerantes, salgadinhos, bisnaguinhas e outros industrializados.

Resolvemos dar um passo atrás e explicar melhor o que são esses alimentos ultraprocessados.

Para escrever esse texto usei como base o que aprendi no Podcast “Prato Cheio” do Joio e o Trigo. O episódio chama “Parece comida, mas não é.” Recomendamos muito os 25 minutos de informação. Aliás, o Joio e o Trigo é “o único projeto brasileiro de jornalismo que investiga a alimentação e suas implicações políticas” – e fazem isso de forma muito didática e com qualidade. Recomendamos todo o material deles.

Origem dos alimentos ultraprocessados

Esse tipo de comida foi inventado na Segunda Guerra Mundial para saciar a fome dos soldados e mantê-los vivos fornecendo uma quantidade de gordura, açúcar e sal o suficiente para cumprir essas funções. Bolachas e bolinhos davam energia para os soldados, mas não os nutriam.

Assim como os agrotóxicos e as panelas de Teflon, esse tipo de “comida” ficou de herança da Guerra.

Origem do termo

O termo “ultraprocessado” foi cunhado por cientistas brasileiros da USP em 2009. O coordenador do Núcleo de Pesquisas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens/USP), o doutor Carlos Augusto Monteiro, disse para o Joio e o Trigo: “Os alimentos ultraprocessados talvez nem devessem ser chamados de alimentos.”

É uma comida super industrializada que passa por uma série de processos antes de chegar nas nossas bocas. A primeira etapa é a fragmentação de componentes de baixo custo dos alimentos naturais (reparou que não há alimentos e sim componentes de alimentos?). E quais são esses componentes? Basicamente:

  • açúcar, sal e gordura

As empresas que produzem ultraprocessados são, em sua maioria, multinacionais poderosas que podem comprar esses ingredientes por um preço baixíssimo de qualquer parte do mundo. E é essa a lógica do ultraprocessado: matéria-prima de baixo custo para gerar lucros super altos. 

Acontece que só com sal, gordura e açúcar não dá para fazer algo com textura e aparência. É aí que entra a proteína extraída de uma leguminosa (um isolado proteico). Mas claro, da leguminosa mais barata: a soja.

Então a receita desses “alimentos” é essa:

  • Açúcar + sal + gordura + isolado proteico + aditivos cosméticos (que dão cor, aroma, sabor)  – Tudo isso submetido a uma tecnologia muito sofisticada que dá textura e aparência para esses produtos

“Ele é muito mais uma formulação de ingredientes, a maioria de uso industrial, do que propriamente um alimento.” segundo o doutor Carlos Augusto Monteiro.

Olhando assim, fica difícil entender por que alguém colocaria na boca essa quantidade de ingredientes nada benéficos à saúde. Aí é só lembrar do gosto de uma batatinha, de um Bis, de um biscoito recheado que a gente logo entende. São baratos, práticos, acessíveis e saborosos.

Ficamos até com a sensação de perda de controle quando comemos esses produtos, “é impossível comer um só”, lembra disso? Não é à toa. Essa sensação vem porque esses produtos são feitos para confundir nosso organismo, até a produção de alguns hormônios relacionados à sensação de saciedade fica alterada. 

Quem sai mais prejudicado nessa balança é sempre a população mais pobre. É mais barato comprar um pacote de bolachas do que um prato feito. Além daqueles trabalhadores que saem cedinho de casa, atravessam a cidade para chegar ao trabalho e não tem tempo de sentar para comer uma refeição de verdade.

E daí, qual é o problema disso?

Vamos listar o que esses produtos (desisti de chamar de alimento) fazem com a nossa saúde, de acordo com a pesquisadora Maria Laura Louzada do Nupens/USP:

  • Maior a chance de ter uma série de doenças: obesidade, diabetes, hipertensão, câncer
  • Distúrbios gastrointestinais e até depressão
  • Há mais 4 estudos apontando que esses produtos aumentam o risco de morte por todas as causas.

Farmer spraying pesticide in Thailand

Até a década de 1940 a gente não sabia que faziam tão mal, só começamos a olhar para esses produtos na última década. Esses produtos são super normalizados pelo sistema e a gente acha que tudo bem ver pessoas comendo uma caixa de Bis inteira sozinha. Não está tudo bem! Os ultraprocessados estão acabando com a nossa saúde e ocupando o lugar da alimentação de verdade.

“Desembale menos e descasque mais!”

Compartilhe a informação, compartilhe uma refeição, só não compartilhe um pacote de bolacha! E não é só a gente que está falando, o próprio Guia Alimentar Para a População Brasileira, produzido em 2014 pelo Ministério da Saúde, traz esse mesmo pedido em outras palavras. Vamos juntos nos alimentar de comida agroecológica, que além de fazer bem para a nossa saúde, faz bem para o planeta.

Vamos fortalecer as causas que a gente acredita, como as famílias que estão por trás da agricultura orgânica e agroecológica no lugar de incentivar grandes empresas de nos fornecer mais anti-alimento!

Tem veneno nesse pacote

Por fim, além de não fazerem bem, esses alimentos tem veneno. Segundo a pesquisa do IDEC “Tem veneno nesse pacote”, foram encontrados mais de 7 agrotóxicos em um único pacote de produtos como Bono, Trakinas e até na bolacha de água e sal. A agrotóxico tem problemas desde a produção por envenenarem a terra e a água e agora vemos que vem parar na boca do brasileiro.

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Além de ouvir o podcast, recomendamos também essas leituras:

Alimentos in natura ultraprocessados

Por que evitar o consumo de alimentos ultraprocessados

 

 

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