Depois que você coloca os seus resíduos para fora de casa, você sabe o que acontece com eles? Para onde eles vão? Estamos sabendo cuidar do nosso lixo?

Para aprendermos sobre o cenário do lixo no Brasil e no mundo, conversamos com a Mariana Rico, gerente executiva do Instituto Estre. A Mari é especialista em resíduos e nós sempre a consultamos quando temos dúvidas nessa área. Neste texto contamos sobre a nossa visita na Estre Ambiental, a empresa que mantém o Instituto e faz gestão de resíduos no Brasil.

O cenário do lixo

O que vemos hoje não é um cenário ambientalmente positivo. Nunca como humanidade produzimos tanto lixo quanto estamos produzindo hoje. E estamos em crescimento, em 2050 devemos aumentar em 40% a produção de resíduos, segundo o Banco Mundial.

Cada habitante do mundo gera em média 1kg de lixo por dia. Claro que varia muito de país para país, um local mais pobre gera menos lixo – cerca de 200g/dia por pessoa, enquanto num país rico, que tem maior poder de consumo, um habitante gera em torno de 4,5 kgs de lixo por dia.

Os países mais ricos geram mais resíduo, segundo o Banco Mundial. A gente pode achar que eles são mais sustentáveis, mas quanto maior for o PIB, mais lixo ela vai gerar. O poder de consumo é quem dita essa conta, a diferença é que os países ricos como a Alemanha tem muito mais capacidade de cuidar do lixo gerado.

A notícia triste é que 1/3 de todo lixo gerado no mundo vai para lixão.

E o cenário do lixo no Brasil?

A nossa geração per capta de lixo é em torno de 1kg por dia, com grandes diferenças entre as regiões. Os mais ricos geram mais lixo sempre. 40% de todo resíduo gerado nas nossas casas vão para lixões. É um número alto. Nosso porcentual de reciclagem também é muito baixo, cerca de 3% do nosso lixo.

Quando o lixo sai da minha casa, para onde ele vai?

Se eu moro numa cidade que tem coleta seletiva, como São Paulo, tenho a coleta do lixo comum e do lixo reciclável. Vamos começar pelo lixo comum. O caminhão da coleta passa – numa logística muito grande – e o leva para um aterro sanitário ou um lixão.

Lixão X aterro

O lixão é um espaço a céu aberto, onde não há nenhum tipo de proteção do solo ou dos gases eliminados a partir do lixo (principalmente o gás metano, altamente tóxico e poluente). Lá acontece uma super contaminação do solo e dos lençóis freáticos, o que é proibido inclusive, com o chorume eliminado ali. Essa contaminação prejudica o terreno e as comunidades no entorno.

Além disso, quando essa contaminação atinge um lençol freático, é tudo interligado, então atinge uma distância muito grande. A contaminação que ocorre em um lixão é um enorme problema. 

Se o caminhão levar os resíduos para um aterro sanitário, o cenário é diferente.

O aterro sanitário é um terreno onde há uma proteção de solo, o chorume gerado não penetra no solo e ele é encaminhado para uma estação de tratamento – pode virar água de reuso por exemplo. Além disso, existem drenos para drenar os gases poluentes ou há a queima desses gases gerando energia elétrica. O lixo é enterrado, não fica a céu aberto.

Lixo Reciclável

Seu lixo reciclável leva outro caminho. Em primeiro lugar é preciso checar se há coleta seletiva na sua região. Se não houver, vale a pena fazer uma busca para entender qual o Ponto de Entrega Voluntária (PEV) mais próximo de você. A maioria das cidades brasileiras tem um. Quando nós viajamos pelo Brasil, é por meio dos PEVs que garantimos que os nossos recicláveis vão para o lugar certo. Fazemos uma busca no google e levamos nosso lixo para lá no final da viagem.

Para saber se na sua região há coleta seletiva e qual o horário da coleta, o jeito é acessar o site da sua prefeitura ou entrar em contato com a prefeitura de alguma forma, pois a gestão dos resíduos é papel do município. Se você mora em São Paulo, pode acessar o ReciclaSampa, colocar o seu cep ou endereço e fazer a consulta.

Cabe dizer aqui que se na sua cidade não coleta seletiva, vale fazer algum tipo de pressão para que isso mude, falando direto com sua prefeitura ou mobilizando outros moradores da sua região para mudar esse cenário na sua cidade. É papel do poder público municipal e eles sabem!

Mari Rico ressalta que o resíduo reciclável deve ser lavado. O ideal é só passar uma água, utilizar água de reuso, etc. Ela dá o exemplo do copo de requeijão – depois de 3 dias, ele está mofado, embolorado e pode acabar nem sendo reciclado. É importante pensar que esse lixo vai passar nas mãos de alguém, uma pessoa vai recolher aquilo, você quer que essa pessoa encoste num lixo nojento?

Depois que o caminhão da coleta seletiva recolhe os resíduos, ele os deixa numa cooperativa ou central mecanizada de resíduos. No Brasil temos poucas centrais mecanizadas (que fazem o mesmo que a cooperativa, mas de forma mecanizada), então a maioria vai para a cooperativa.

Neste texto contamos de forma mais detalhada o que ocorre em uma cooperativa, mas lá basicamente o material é todo separado (e é aqui que entra o trabalho de pessoas) para ser vendido. O plástico, por exemplo, é separado por tipo – são 80 tipos diferentes – a garrafa PET também é separada por cor. Esse lixo é separado de forma a agregar mais valor. Depois de agregar, gerar quantidade o suficiente, a cooperativa vende esse lixo para empresas interessadas. É preciso juntar uma boa quantidade para vender, porque as empresas só compram quantidades muito grandes.

Todo material reciclável é reciclado?

Não. É preciso que haja uma indústria que compre. No caso das latas de alumínio, por exemplo, quase 100% delas são recicladas pois elas não perdem a qualidade no processo (que leva em torno de 60 dias até que “voltem às lojas”). Escolher lata é ter certeza que o seu resíduo irá voltar para o ciclo.

O material que chega nas cooperativas e que elas não conseguem vender vai para o aterro sanitário ou para um lixão. Esse material é chamado de rejeito de cooperativa.

Nessa matéria a gente conta algumas dicas para levar em conta na hora de escolher um material para comprar. A principal dica é: quanto menos material sua embalagem tiver, melhor. Um produto feito de muitos materiais diferentes é mais difícil de reciclar.

Como nosso lixo vai parar nos oceanos?

Parte vem da própria praia, pessoas que deixam o lixo lá. Mas a maior parte mesmo vem da falta de saneamento básico em grande parte do mundo. Muito disso vem da Asia.

1/3 do lixo do mundo vai para lixões e muitas vezes esses lixões estão na beira de córregos, de rios. Montanhas de lixo que são jogados ali e acabam escoando para o mar. Os mais pobres – para variar – sofrem muito mais com as consequências. 9% do Brasil não tem nem coleta do lixo comum – esse lixo vai parar em terrenos baldios, em córregos ou são queimados.

O que podemos fazer?

Adoramos falar sobre isso, porque o indivíduo pode fazer muita coisa sozinho, em casa, no âmbito pessoal. A começar lembrando que tudo que se compra em algum momento é preciso descartar. Muitas vezes consumimos no automático, então começa por aí: repensar o consumo e a necessidade de coisas novas. Sempre antes de consumir, se perguntar: eu preciso mesmo disso?

Móveis: dá para comprar usado (olx, mercado livre, enjoei).

Roupas: dá pra comprar em brechós, trocar com as amigas, alugar.

Livros: há milhares de sebos maravilhosos ou a própria Estante Virtual.

Produtos de limpeza e cosméticos: dá para aprender a fazer, temos algumas receitas aqui e outras espalhadas nas nossas redes.

A partir daí, quando houver uma necessidade, adquirir coisas com menos embalagens, dar preferência a materiais de papel, de vidro, de alumínio, materiais que podem ser reutilizados, reciclados ou compostados.

Outras atitudes para ajudar a diminuir o lixo que produzimos: Comprar à granel,  frequentar feiras de troca, compostar em casa, consertar as coisas no lugar de comprar novas. Pressionar as indústrias. Elas estão fazendo muito pouco.

Uma das nossas bandeiras mais importantes e que mais damos enfoque é justamente a questão dos resíduos. Muitas das nossas microrrevoluções são voltadas para essa questão. Não é à toa. O mundo não precisa de mais lixo, vamos ajudar?

 

 

 

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